Equipamentos não específicos de Lazer

A CASA, O BAR, A RUA… EQUIPAMENTOS NÃO ESPECÍFICOS

Ponha-se no seu lugar! Uma simples frase, mas carregada de significados. Entre outros, o de “sugerir” que a pessoa ocupe o espaço que lhe é “próprio” tendo em vista critérios os mais variados, mas todos de natureza política. O nosso espaço, que já não é mais o natural, mas o espaço social, é de natureza política e influenciado por questões econômicas. E o espaço onde o lazer é desenvolvido, não foge à regra. Hoje começaremos a falar sobre os equipamentos para o lazer que fazem parte da cidade.

Todas as pesquisas dão conta de que a grande maioria da população desenvolve suas atividades de lazer, prioritariamente, no ambiente doméstico. O lar é o principal equipamento não específico de lazer, ou seja, um espaço não construído de modo particular para essa função, mas que eventualmente pode cumpri-la. Nessa mesma categoria figuram os bares, as ruas, as escolas etc.

Quanto ao lar, ainda que possa oferecer condições satisfatórias para uma minoria de privilegiados, constitui um dos poucos equipamentos, disponíveis para grandes parcelas da população, “empurradas” para dentro de suas casas, no tempo disponível para o lazer. Exatamente essas pessoas são as que menos têm condições para o desenvolvimento de lazer nas suas habitações. O espaço é exíguo, quer se considere as áreas construídas, ou os quintais e áreas abertas coletivas, quando existem. Na maioria de nossas cidades há favelados em barracos e também nas favelas de alvenaria, formadas pelas autoconstruções de fins de semana, ou pelos cubículos dos programas de habitação popular.

No que diz respeito aos bares, muito preconceito ainda existe, ligado ao consumo de bebidas alcoólicas. Via de regra, o bar vem perdendo a sua característica de ponto de encontro, muito embora algumas iniciativas ocorram no sentido de sua transformação em espaço alternativo para outras atividades, como exposições, lançamentos de livros, músicas ao vivo, etc.. A maioria dessas iniciativas fica restrita aos chamados “barzinhos” e cafés freqüentados por jovens, quase que na totalidade estudantes. Os tradicionais “botequins”, onde se “jogava conversa fora”, são substituídos, nas áreas “nobres” pelas lanchonetes, onde o consumo rápido desestimula a convivência.

As escolas contam com grandes possibilidades para o lazer, em termos de espaço, nos vários campos de interesse: quadras, pátios, auditórios, salas, etc.. Deve-se considerar, ainda, seus períodos de ociosidade, em férias e fins de semana, e a existência de vínculos com a comunidade próxima. No entanto, a tão propalada “abertura comunitária” desses equipamentos não vem se verificando, talvez pelo temor dos riscos de depredação. Já tive oportunidade de desenvolver atividades de lazer em escolas, em trabalhos comunitários e, ao contrário do que se possa imaginar à primeira vista, uma ação bem realizada nesse sentido, só contribui para aumentar o respeito das pessoas pelo equipamento, uma vez que, à medida que o utilizam, vão desenvolvendo sentimentos positivos, passando a colaborar na sua conservação. No entanto, o que se verifica, na maioria das vezes, é a “abertura” desses equipamentos apenas para “festas”, cujo objetivo principal é a arrecadação de fundos para a sua manutenção.

Assim, na realização de trabalhos com comunidades é fundamental que as escolas estruturem seus programas de abertura, sem fixar “pacotes” de atividades que podem restringir o acesso aos bens culturais. Para isso, as equipes técnicas podem desenvolver as ações no campo do lazer em parceria com diferentes setores da sociedade.

Com relação às ruas, e mesmo que se considerem as praças, quase sempre são concebidas como locais de acesso, de passagem. Transitá-las é uma aventura. Algumas iniciativas são tomadas por grupos de moradores “fechando” espaços para “festas juninas” ou “ruas de lazer”. Mas são atitudes raras e efêmeras.

A precariedade na utilização dos equipamentos não específicos coloca-nos três questões igualmente importantes: 1- a necessidade de desenvolvimento de uma política habitacional, que considere, entre outros aspectos, também o espaço para o lazer – o que não é fácil num País como o nosso, com alto déficit habitacional, e que deve estimular alternativas criativas em termos de áreas coletivas; 2- a consideração da necessidade da utilização dos equipamentos para o lazer, através de uma política de animação; 3- a preservação de espaços urbanizados “vazios”.

TEXTO N. 7 publicado dia 12 DE JANEIRO DE 2012
BLOG do Prof. Dr. Nelson Carvalho Marcellino
http://lazercomz.zip.net/
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